terça-feira, 18 de outubro de 2011

Inocência roubada







Pense em uma pessoa ingênua, multiplique por dois; Assim era Fabrício que confiava demais nas pessoas.

Naquela pequena banca de jornal nos meados de 70, ele conhecia o mundo como ninguém, através das revistas, livros, jornais, coleções e quadrinhos. Nessa época o Google de hoje não existia nem em sonhos. Passava o tempo lendo e conversando com os amigos, para ele todo mundo era amigo, não sabia diferenciar amigo de colega.

Achava um absurdo no livro “1984” de George Orwell (publicação de 1949), as câmeras que vigiavam as pessoas, isso nunca iria acontecer big brother era ficção.



Ainda lendo o livro cumprimentava dona Amélia que todos os dias folheava as revistas pra ler o horóscopo, coisa que ele não acreditava e achava um absurdo aquela senhorinha sempre de sacola nas mãos e de quase 80 anos acreditar nos astros, Todo dia religiosamente, a simpática vovó naquele cantinho ficava um tempão lendo, se despedia e seguia seu caminho.

Fabrício começou a sentir falta de algumas revistas bem ali naquele canto, sabia que não tinha vendido a “Capricho” e nem a “Contigo” da semana e muito menos aquela “Grande Hotel” de fotonovelas.

- Bom dia, Fabrício!

-Bom dia dona Amélia!

- Hoje meu horóscopo está dizendo pra eu ter cuidado!

- É mesmo, e a senhora acredita nisso?

-Sim, na minha idade todo cuidado é pouco.

Fabrício concordou com um gesto de cabeça e continuou lendo “1984”.

Um olho no gato outro no peixe flagrou o momento em que a idosa num gesto rápido que não conduzia com sua idade, empurrava para a sacola duas revista de uma só vez.

Olho no olho, e uma decepção total, Fabrício não teve coragem de dizer nada, mas e sua cara afastou a velha que levou embora a sua ingenuidade para nunca mais voltar.



Fabrício sonhava agora com um aviso:

“Sorria, você está sendo filmado”, mas estalava os dedos e dizia:

-Acorda, isso nunca irá acontecer, estou sendo ingênuo!

Fernandes

3 comentários:

  1. Texto enxuto.Bom demais!
    Abração!
    Berzé

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  2. Obrigado, Berzé.
    Essa é uma das crônicas que faço nas horas vagas.

    Abração, fernandes

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  3. Grande Fernandes.
    Crônica sem igual e ilustração encantadora...
    Parabéns²!!!!

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