sexta-feira, 21 de outubro de 2011

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Carta no porta-luvas

Esta é uma história de pescadores que aconteceu faz alguns anos.

Quem dirigia o velho jipe na volta da pescaria era o Antonio, mas não é um jipe normal desses que a gente vê de vez enquanto pelas ruas, é um veículo que mais parece um tanque de guerra, na verdade um jipe 45 da segunda guerra, mas tão velho que mais parece ser da primeira. Nesse enorme jipe sete amigos voltando todos na pindaíba (anzol sem peixe)

De madrugada por uma estrada de terra deserta e escura e nenhum sinal de alguma habitação a quilômetros dali.
A escuridão era rompida por um único farol que ainda funcionava. Todos quietos com a atenção naquele fio de luz, quando o silencio foi quebrado por um grito abafado e sinistro, vindo talvez de uma plantação de eucaliptos:


-Antooooooooooooooonioooooooooooooooooooooo!!!!!!!


Ninguém comentou nada, percebeu-se que Antonio pisou fundo no acelerador, chegando rapidamente na cidade.


Na despedida cada qual não se arriscava a perguntar qualquer coisa com referencia ao acontecido, com medo de que fosse algo da imaginação ou temendo uma possível gozação dos amigos.


Agenor não agüentou e fez a pergunta:


- alguém além de mim ouviu um grito de Antonio, vindo da mata?


Todos estremeceram. Agora um calafrio maior, pois não tinham mais dúvidas,


Juraram guardar segredo daquela noite sinistra.


Antonio faleceu no outro dia, Agenor no dia seguinte e depois foi o Mané e como peças de dominó enfileiradas caindo, chegou à vez de Orlando, Vicente, Edson.


Faz uma semana que tudo isso aconteceu, espero estar vivo quando alguém ler esta história, pois dessa pescaria só sobrou quem vos escreve.


Assinado: Pedro Rodrigues da Silva

Carta encontrada em uma espécie de jipe, no ferro velho da cidade Esperança.

Fernandes

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Inocência roubada







Pense em uma pessoa ingênua, multiplique por dois; Assim era Fabrício que confiava demais nas pessoas.

Naquela pequena banca de jornal nos meados de 70, ele conhecia o mundo como ninguém, através das revistas, livros, jornais, coleções e quadrinhos. Nessa época o Google de hoje não existia nem em sonhos. Passava o tempo lendo e conversando com os amigos, para ele todo mundo era amigo, não sabia diferenciar amigo de colega.

Achava um absurdo no livro “1984” de George Orwell (publicação de 1949), as câmeras que vigiavam as pessoas, isso nunca iria acontecer big brother era ficção.



Ainda lendo o livro cumprimentava dona Amélia que todos os dias folheava as revistas pra ler o horóscopo, coisa que ele não acreditava e achava um absurdo aquela senhorinha sempre de sacola nas mãos e de quase 80 anos acreditar nos astros, Todo dia religiosamente, a simpática vovó naquele cantinho ficava um tempão lendo, se despedia e seguia seu caminho.

Fabrício começou a sentir falta de algumas revistas bem ali naquele canto, sabia que não tinha vendido a “Capricho” e nem a “Contigo” da semana e muito menos aquela “Grande Hotel” de fotonovelas.

- Bom dia, Fabrício!

-Bom dia dona Amélia!

- Hoje meu horóscopo está dizendo pra eu ter cuidado!

- É mesmo, e a senhora acredita nisso?

-Sim, na minha idade todo cuidado é pouco.

Fabrício concordou com um gesto de cabeça e continuou lendo “1984”.

Um olho no gato outro no peixe flagrou o momento em que a idosa num gesto rápido que não conduzia com sua idade, empurrava para a sacola duas revista de uma só vez.

Olho no olho, e uma decepção total, Fabrício não teve coragem de dizer nada, mas e sua cara afastou a velha que levou embora a sua ingenuidade para nunca mais voltar.



Fabrício sonhava agora com um aviso:

“Sorria, você está sendo filmado”, mas estalava os dedos e dizia:

-Acorda, isso nunca irá acontecer, estou sendo ingênuo!

Fernandes

terça-feira, 4 de outubro de 2011